A partir da definição de Opinião Pública como a representação de uma “consciência coletiva”, conforme apresentado em publicações passadas, propomos a análise de sua relação com o Comportamento Político. Dentre os autores que pensaram essa conexão, está Emerson Cervi (2010), que tentou compreender como a opinião pública está relacionada com a decisão na hora do voto. Para o autor, o resultado eleitoral é uma forma de institucionalização ou materialização da opinião pública em um determinado período histórico.
Sua análise está organizada a partir do entendimento de uma opinião pública primária e secundária. A primeira é composta por um agregado de opiniões individuais acerca de mudanças sociais, políticas e econômicas. Já a secundária, é moldada a partir de novos elementos e uma carga emocional, e, a partir dessa, se desdobra em comportamento. Sendo assim, para uma opinião primária, evoluir para uma opinião secundária, essa deve ser agregada com novas informações ou novos acontecimentos e influenciada por uma carga emocional, assim, serão observadas pequenas atitudes e, em seguida comportamentos.
Como no esquema a seguir, elaborado por Cervi:
PROCESSOS SOCIAIS PARA FORMAÇÃO DE OPINIÃO PÚBLICA E SECUNDÁRIA

A partir dessa concepção, o comportamento eleitoral – que se desdobra em diferentes formas, como a participação política indireta, a filiação partidária, a participação política direta e o voto – pode ser exemplificado de diferentes formas. Diante disso, o autor desenvolve 3 teorias que ajudam a sistematizar a reflexão em torno do comportamento político.
- Teoria Sociológica: o comportamento político está basicamente relacionado às condições sociais, como classe social, interação com diferentes instituições e grupos sociais, o processo de identificação, formação de opinião.
- Teoria Psicológica: considera o contexto social e a experiência individual no processo de formação de agentes políticos, identificando 4 principais perfis:com isso, essa teoria levanta típicos perfis de grupos políticos que são formados: (1) Os engajados, ativos na esfera política; (2) os anômicos, que não encontram seu lugar nessa esfera; (3) os impotentes, que não percebem função na prática política; e (4) os rebeldes, que procuram a substituição de um sistema por outro. Por fim, a
- Teoria Econômica: está baseada na teoria da escolha racional e basicamente observa aqueles indivíduos que comparam seus próprios ganhos e perdas antes de participar, sendo que o motivador seria os ganhos superarem as perdas.
Dessa forma, apesar da teoria de Cervi estar baseada na observação dos comportamentos relacionados ao processo eleitoral, é possível pensar a relação entre opinião pública e comportamento político em outros contextos. Em estudo realizado por Rennó, Power e Pereira, os autores analisam a relação da opinião pública na condução da estratégia presidencial e sobre o parlamento brasileiro, trazendo as seguintes contribuições.
- A Opinião Pública tem uma característica mais reativa do que proativa, ou seja, algo deve acontecer para que ela se movimente.
- As decisões políticas presidenciais, são aquelas em maior destaque para a Opinião Pública.
- O relacionamento entre o Legislativo e Executivo, direcionam a Opinião Pública sobre a imagem do Presidente da República.
- O direcionamento da Opinião Pública influencia a relação/ coalizão entre o Executivo e o Legislativo.
A partir disso, podemos compreender que Opinião Pública é uma das variáveis que devem ser considerada na construção de cenários que analisam decisões políticas e tentam traçar tendências, riscos e oportunidades. Uma das ferramentas à disposição para conhecer parte desse ecossistema vasto são as interfaces do Poder Legislativo de interação com o cidadão, como o E-cidadania, e as redes sociais. Assim, na próxima publicação direcionaremos o olhar para analisar como a opinião pública se materializa nessas plataformas e permite acompanhar e coletar informações sobre o comportamento político.
CERVI, Emerson Urizzi. Opinião pública e comportamento político. Editora Ibpex, 2010.
PEREIRA, Carlos; POWER, Timothy; RENNÓ, Lúcio. Opinião pública, estratégia presidencial e ação do congresso no Brasil:” quem manda?”. Opinião Pública, v. 11, p. 401-421, 2005. (link).
Artigo elaborado pela Fernanda Arraes, estagiária da Umbelino Lôbo, em junho de 2023.